segunda-feira, 28 de outubro de 2024

BERTIOGA HISTÓRICA



Brasão do antigo Instituto Histórico e Geográfico Guarujá-Bertioga


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Ilustração : Francisco Barbosa dos Santos. Poliantéia Vicentina. 1982. Editora Caudex. 


Aceitam os historiadores que Bertioga tenha sido o primeiro ponto de futuro território santista, em que fundou e estacionou por alguns dias o capitão e donatário Martim Afonso de Souza [1].

O ilustre senhor de Alcoentre e Tagarro, que viera de Portugal tão armado de navios e de canhões, com quatrocentos soldados de guerra, destroçando inimigos franceses na costa de Pernambuco, apresando navios, após uma longa permanência no Rio de Janeiro, onde tentara fundar uma povoação junto à Praia Vermelha (que ficou conhecida como "Praia ou porto de Martim Afonso") e onde construíra a famosa Casa de Pedra (Carioca - no futuro Flamengo), aportara em Bertioga, lançando âncoras junto à Ilha de Guaíbe (atualmente Santo Amaro), no porto natural ali formado, em fundo de mais de dez braças.

Naquela barra teria ele, segundo a maioria dos autores, construído a primeira estacada ou primeiro fortim, da banda do continente, que guarnecera com artilheiros e soldados seus. Ali teria ele recebido, pouco depois, a visita de João Ramalho e Tibiriçá, acompanhados de quinhentos guerreiros goianases, parlamentando pela primeira vez com o famoso reinol do planalto, e combinado talvez um "modus vivendi", que permitiria a Ramalho a continuação da sua vida e dos seus negócios, e a ele, Capitão do Rei, o cumprimento manso e pacífico da última parte da sua missão, que era oficializar São Vicente, criar a Vila desse mesmo nome e desenvolver a grande colonização.

Contam os autores em geral que indígenas do litoral, assustados com o aparato das naus e caravelas e dos guerreiros de Martim Afonso, correram a avisar o patriarca português da Borda do Campo, fazendo com que ele descesse com uma parte das suas forças. Isso, evidentemente, não passa de uma fantasia. O racional, no caso, será admitir-se a atuação de Pero Capico e Henrique Montes (além de outros), antigas e conhecidas figuras da região, de longos contatos anteriores com a indiada vizinha, junto ao aborígene local (tapanhunos e miramomis), conseguindo mensageiros e estafetas para a longa caminhada até os campos de Ramalho, e para o convite ao patriarca, que produziria a sua primeira conferência com Martim Afonso, e que seria, em última análise, a preparação à entrada deste na terra dominada por ele e seus companheiros da baixada - o "Bacharel" Mestre Cosme e Antônio Rodrigues.

O resultado dessa conferência de Bertioga está bem claro. O "Bacharel", por ser um degredado e por não admitir domínio e direção de ninguém, retirou-se imediatamente do povoado que fundara (S. Vicente), voltando a Iguape e Cananéia, por mar (em suas embarcações) e por terra, seguindo as trilhas dos seus aliados, os brasílicos de Piquerobi, enquanto Antônio Rodrigues, o antigo traficante associado, permanecia no seu Tumiaru pacato, à espera da instalação dos homens do Rei.

É possível e até lógico que comparecesse à Conferência de Bertioga (muito mais importante do que se tem pensado) o último Capitão da Feitoria ou Capitania Vicentina - Antônio Ribeiro - que ali estava desde 26 de outubro de 1528, como sucessor de Pero Capico, vivendo em paz e em comum com o potentado "Bacharel" Mestre Cosme.

Como chamara João Ramalho, chamara também Martim Afonso o Capitão Antônio Ribeiro, que se destituía com a sua chegada, e que muito mais perto estava de Bertioga, o que deixa de ser uma conjectura e passa a ser uma quase certeza, de tão natural.

Voltando a S. Vicente, em seguida, Antônio Ribeiro teria transmitido ao "Bacharel" o recado de Martim Afonso, com as alternativas que este lhe oferecia: a retirada sua e de sua gente, imediatamente, para o local do seu antigo degredo, ou a luta contra os seus navios, seus canhões, seus soldados (que eram muitos) e seus cabos de guerra (que não eram poucos). Para o caso da retirada ser-lhe-iam concedidos alguns dias, após o que, o Capitão Governador desceria com sua Armada, para combater em S. Vicente e desalojá-los, ou para fundear em Iguape e Cananéia, e confirmar a presença dos intimados.

Tendo preferido a retirada, como se sabe, o "Bacharel", seu genro Francisco de Chaves e toda a sua gente foram encontrados mais tarde (com chegada recente) naqueles lugares, ao Sul da Capitania, por Martim Afonso, o qual teve, ali, cabal demonstração de que a Conferência de Bertioga produzira resultados extraordinários, o que era um bom augúrio à sua entrada.

De Iguape e Cananéia desceu Martim Afonso o oceano, até o "rio da Prata", como era desejo do rei e sua idéia, onde um naufrágio da capitânia quase transformou o panorama histórico da fundação vicentina.

Voltando litoral acima, só então veio Martim Afonso fundear no "Porto de São Vicente", dando início à colonização ampla e regular da sua Capitania, em combinação e boa paz com Antônio Rodrigues e João Ramalho, o pioneiro da baixada e do planalto, figuras importantes da nova História que se iniciava.

Deu-se aí o que já conhecemos: a criação da Vila de São Vicente e o início-fundação do povoado de Enguaguaçu, a futura Santos, cujo crescimento havia de ser muito rápido, a ponto de tornar-se Vila também, apenas treze ou quinze anos após.


Pouco depois, quando o crescimento da população local e da expansão dos colonizadores (agricultores e industriais plantadores, criadores e donos de engenhos), englobado o aparecimento das primeiras gerações santistas, trouxe a necessidade de ocupação das terras de Bertioga e da sua defesa efetiva ou permanente [2], começaram os tupiniquins ou tamoios, senhores do litoral Leste (chamado Norte pelo vulgo), desde Cabo Frio a S. Sebastião, a sentir a presença numerosa e constante do branco português (dos Peros - adulteração do Perro espanhol, que eles não podiam pronunciar - "cão", "cães) e também a sua irritação, passando eles a exercer uma vigilância relativamente passiva, e, finalmente, a organizar expedições de vulto de extrema agressividade, contra a Ilha de Santo Amaro e os sítios de Bertioga, ameaçando as duas vilas de Santos e São Vicente.

Dentro de pouco tempo, eram constantes as invasões operadas pelas hordas brasílicas de Ubatuba e S. Sebastião, em gritos, horrissonâncias selváticas, que aterrorizavam ainda mais do que os seus arcos de guerra.

Imaginavam os tamoios, e imaginavam certo, que os brancos em breve tomariam também as suas terras e os expulsariam dos seus antigos domínios, e, assim, era preciso intimidá-los, afastá-los dali, ou exterminá-los.

Abrindo-se os documentos iniciais da história santista e vicentina, verificamos que eram muitos os pioneiros da penetração agrícola bertiogana, que viam em suas terras aluvionais do continente e à beira-rio glebas ideais para a produção de cana, de arroz, de feijão, de milho e até de algodão, e para a localização de engenhos, maiores ou menores, ou de grandes monjolos, para fornecimento às duas vilas e aos navios que ali fundeavam, no porto da Capitania, a pouca distância deles.

Não tardou que no próprio sítio de Bertioga, junto à barra e depois dela, alguns colonos mais audaciosos obtivessem terras e lançassem estabelecimentos, como Diogo Rodrigues e José Adorno (desde 1545; terras confirmadas em 1557 por Antônio Rodrigues de Almeida) [3], como Estevam Raposo Bocarro, como Gonçalo Afonso (o bombardeiro de João de Sousa), Cristóvão Monteiro, Pedro Fernandes, Simão Machado, Domingos Carocho, Jorge Ferreira, Pascoal Fernandes, o ferreiro Rodrigues, Jerônimo Rodrigues (o despenseiro de João de Sousa), Jorge Pires, e outros ainda entre 1545 e 1557.

Gonçalo Afonso logo desistira da sua gleba de Bertioga, passando-a a Jorge Pires, para fundar o seu Engenho (o de "Nossa Senhora da Apresentação" - ao fim do rio Curumau, zona central da Ilha de Guaíbe, com saída para o rio de Bertioga, e em parceria com um Pires "Gago").

Semelhante audácia dos portugueses, reunida à idéia de que eles raptavam as virgens tamoias (explorada pelos franceses, que a incutiam e divulgavam entre os selvagens seus aliados), promoveu uma verdadeira fúria tupinambá, arrastando legiões imensas de Ubatuba e S. Sebastião, contra Bertioga e as pequenas fortificações ali existentes.

Em conseqüência da fúria tamoia despenhada sobre a região, pela altura de 1557, quase todos os sitiantes e povoadores de Bertioga e Ilha de Santo Amaro haviam desertado, receosos de um possível e breve ataque em massa, pelos terríveis antropófagos.

Em 1557 exatamente, quando o alemão Hans Staden já havia sofrido, junto à Fortaleza de pedra (de S. Felipe) a captura e cativeiro pelos invasores tamoios, os portugueses nomearam Pascoal Fernandes, o mais antigo fundador de Santos (o primeiro agricultor), para Condestável da Barra e Sítio de Bertioga, comandando as duas fortificações então existentes, lá indo meter-se ele com uma pequena guarnição, sua mulher e seus filhos, na Fortaleza de pedra (a de São Felipe), a cavaleiro das rochas extremas da Ilha de Guaíbe.

É o que se vê pela escritura de doação de 1º de junho de 1562, passada pelo Capitão Antônio Rodrigues de Almeida, em favor de Pascoal Fernandes, que dava aos demais o seu exemplo de coragem e destemor:

"Por elle (Pascoal Fernandes) estar e residir na dita Fortaleza de S. Felippe com sua mulher e filhos, sem haver outro morador nem Povoador na dita ilha, senam elle dito supplicante" [4].

Raros foram aqueles que se animaram a acompanhar Pascoal Fernandes, mas, entre esses raros, pôde a Civilização vicentina contar com a figura extraordinária de José Adorno, sempre presente, em todas as fases e em todos os momentos e movimentos de guerra, de ameaça e de perigo, assim como em todas as ações externas de conveniência régia ou local. A melhor prova disso é aquela Igreja enorme para a época e para o lugar, construída no ano de 1557, o mesmo da nomeação do Condestável.

Só em 1556 é que observamos as primeiras tendências para o retorno às terras de Bertioga e Ilha de Santo Amaro (extremo Leste), de todos aqueles que, amedrontados ante a fúria tamoia, dali haviam fugido anos atrás, ameaçando de pobreza e insuficiência de alimentação as duas Vilas: de Santos e de São Vicente.

Documento importante a tal respeito é a Sesmaria concedida naquele ano (1556) a Cristóvão Monteiro: [5].

"E porque até agora como estaa dito he notorio a dita Ilha esteve e estaa despovoada, e inhabitável por respeito das muitas guerras succedidas nestas Capitanias de S. Vicente e Santo Amaro, pelo qual respeito havendo este impedimento, o supplicante nam ouzou de fazer sua Fazenda nas ditas terras, sem embargo de nellas trazer muito gado vacúm, tempos atraz passados fez cannaveaes e roçaria de mantimentos nas ditas terras, e ora com ajuda de Nosso Senhor tem ordenado com seus cunhados e parentes, e alguns Índios principaes da terra, tornarem a roçar, e fazer Fazenda nas ditas terras, etc." [6].

Foi nesse lugar e nesse ambiente de luta e de morte, em que se chocavam permanentemente a barbárie e a civilização, ameaçando, a cada dia e a cada hora, o aniquilamento de toda a obra colonizadora dos portugueses, e logo ao princípio da expansão do branco, que surgiram os famosos irmãos Braga, os primeiros santistas nominalmente conhecidos, precursores da grei bandeirante e primeiros mártires espontâneos daquela Civilização (nem todos).

Surgiram aqueles cinco irmãos espartanos quando mais acesa ia a fúria assoladora dos tamoios, decididos a trancar a passagem dos bárbaros no único ponto em que isso era possível: a barra e sítio de Bertioga.

Vamos deixar que Hans Staden, o artilheiro germânico contratado para dirigir as primeiras baterias do Forte de S. Felipe, fale por eles, com a autoridade de quem, com eles, viveu os mesmos perigos e as mesmas horas de angústia [7].

"As cinco milhas de S. Vicente há um lugar denominado Brikioka, onde os inimigos selvagens primeiro chegam, para daí seguirem por entre uma ilha chamada Santo Amaro e a terra firme.

"Para impedir este caminho aos índios, havia uns irmãos mamelucos, oriundos de pai português e mãe brasileira, todos cristãos e tão versados na língua dos cristãos, como na dos selvagens. O mais velho chamava-se Johan de Praga (João de Braga), o segundo, Diego de Praga (Diogo de Braga), o terceiro, Domingo de Praga (Domingos de Braga), o quarto, Francisco de Praga (Francisco de Braga), o quinto, Andrea de Praga (André de Braga), e o pai chamava-se Diego de Praga (Diogo de Braga).

"Cerca de dois anos antes da minha vinda[8], os cinco irmãos tinham decidido, com alguns índios amigos, edificar ali uma casa forte para deter os contrários, o que já tinha executado [9].

"A eles se ajuntaram mais alguns portugueses, seus agregados porque era a terra boa. Os inimigos Tuppin-Inbás, logo que isso descobriram, se prepararam na sua terra, dali distante cerca de 25 milhas, e vieram uma noite com 70 canoas, e, como de seu costume, atacaram de madrugada. Os mamelucos e os portugueses correram para uma casa, que tinham feito de pau a pique, e aí se defenderam. Os outros selvagens fugiram para suas casas e resistiram quanto puderam. Assim, morreram muitos inimigos, mas por fim venceram estes e incendiaram o sítio da Brikioka; capturaram todos os selvagens, mas os cristãos, que eram uns oito mais ou menos, e os mamelucos, nada puderam fazer porque Deus quis salvá-los. Aos outros selvagens, porém, que tinham capturado, esquartejaram-nos e repartiram-nos os entre si, depois do que voltaram para sua terra (São Sebastião)".


Com o primitivo nome de Sant'Iago e depois rebatizado como Fortaleza de São João da Barra de Bertioga, tendo à frente (do outro lado do canal, já na ilha de Santo Amaro) o Forte de São Felipe, conserva-se até hoje em destaque no município essa edificação do século XVI, abrigando desde o século XX o Museu João Ramalho. Publicado por Novo Milênio. 



COMO OS PORTUGUESES REEDIFICARAM BRIKIOKA E DEPOIS 

FIZERAM UMA CASA FORTE NA ILHA DE SANTO AMARO


"Depois disto pensaram as autoridades e o povo que era bom não abandonar este lugar, mas que cumpria fortificá-lo, pois que deste ponto todo o país podia ser defendido. E assim o fizeram.

"Quando os inimigos perceberam que o lugar lhes oferecia grandes dificuldades de ataque, vieram de noite, mas por água, e aprisionaram a quantos encontraram em S. Vicente. Os que moravam mais longe pensavam não correr perigo, visto existir uma casa forte na vizinhança, pelo que sofreram muito.

"Por causa disso, deliberaram os moradores edificar outra casa ao pé da água, e bem defronte de Brikioka, e aí colocar canhões e gente para impedir os selvagens. Assim, tinham começado um forte na Ilha; mas não o tinham acabado, à falta de artilheiro português que se arriscasse a morar ali. Fui ver o lugar. Quando os moradores souberam que eu era alemão e que entendia de artilharia, pediram-me para ficar no forte e ajudá-los a vigiar o inimigo. Prometiam dar-me companheiros e um bom soldo. Diziam também que se eu o fizesse seria estimado pelo Rei, porque este costumava ver com bons olhos aqueles que, em terras assim novas, contribuíam com seu auxílio e seus conselhos.

"Contratei com eles para servir 4 meses na casa, depois do que um oficial devia vir por parte do Rei, trazendo navios, e edificar ali um forte de pedra, para maior segurança; o que foi feito [10].

"....

"Depois de alguns meses, chegou um oficial por parte do Rei, pois que lhe tinham escrito quão grande era o atrevimento dos selvagens e o mal que os mesmos lhes faziam. Também tinham escrito, quão bela era esta terra e não ser prudente abandoná-la. Para então melhorar essas condições, veio o governador Tomé de Susse (Thomé de Sousa) para ver o país e o lugar que queriam fortificar.

"Fizeram a casa de pedras, puseram dentro alguns canhões e ordenaram-me que zelasse bem da casa e das armas".

Este trecho de Hans Staden restaura a verdade de Bertioga, mostrando quem eram os irmãos Braga, e como, quando e por que foram feitas as primeiras fortificações daquela barra histórica.

Por aqui se vê que Martim Afonso de Souza, em sua provável estada na Bertioga, de passagem para o Sul e para S. Vicente, instalou ali somente uma estacada ou pequena casa forte, para refúgio e abrigo provisório de alguma gente que deixaria naquele ponto, casa esta que ele mesmo fez abandonar no ano seguinte, não se podendo contar, dali, a existência real da Fortaleza.

Frei Gaspar exagerou alguma coisa, quando atribuiu a ereção da Fortaleza de Sant'Iago a Martim Afonso, sendo ele o autor dessa versão sem consistência. A verdade aí está; ela só passou a existir mesmo em 1547 e desde então nunca mais deixou de ser conservada, restaurada, reconstruída e reaparelhada, partindo dessa casa-forte dos Irmãos Braga.

A última vez que vemos os irmãos Braga em exercício da heróica missão de sentinelas da barra de Bertioga é pela altura de 1554, em companhia de outros dois filhos da terra, sacrificados ao canibalismo do gentio litorâneo - Jerônimo e Jorge Ferreira.

É ainda Hans Staden que nos vai contar a ação assistida por ele, já como prisioneiro da tribo de Ubatuba:

"Alguns dançaram em homenagem aos seus ídolos, e quiseram neste mesmo dia ir à terra dos seus inimigos, a um chamado Boywassukange (Boissucanga), esperando aí até que anoitecesse.

"Ao deixarmos o lugar onde tínhamos pernoitado, chamado Maynbipe (Ilha de S. Sebastião, etc.... .."

"Quando perlongávamos a terra, avistamos, por detrás de uma ilha, umas canoas que se dirigiam a nós. Gritaram então - 'Aí vêm os nossos inimigos, os Tuppin Ikins'. Quiseram ainda assim esconder-se com as suas canoas por detrás de um rochedo, para que os outros passassem sem os ver. Mas foi debalde, viram-nos e fugiram para a sua terra. Remamos com toda a força atrás deles, talvez umas quatro horas, e os alcançamos. Eram cinco canoas cheias, todas de Brikioka. Conheci-os a todos. Vinham seis memelucos em uma dessas canoas, e dois eram irmãos. Chamava-se um Diego de Praga (Diogo de Braga) e o outro Domingo de Praga (Domingos de Braga). Defenderam-se estes valentemente, um com um tubo (espingarda) e o outro com um arco. Resistiram na sua canoa, durante duas horas, a trinta e tantas canoas nossas. Acabadas as suas flechas, os Tuppin-Inbá os atacaram e os aprisionaram, e alguns foram logo mortos a tiro. Os dois irmãos não saíram feridos, mas dois dos seus mamelucos ficaram muito maltratados, bem como alguns dos Tuppin-Ikin, entre os quais havia uma mulher.


"BRITINGA"

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PLANTA DI SAN VICENZO. Orazi, Andrea Antonio, 1670-1749. Esta obra pertence a: "Istoria delle guerre del regno del Brasile..." . "Mappas do Reino de Portugal e suas conquistas collegidos por Diogo Barbosa Machado"

A forte de de Bertioga aparece como "Britinga"embaixo e à direita do mapa, logo acima de uma caravela. 


"Entre os que foram assados de noite, havia dois mamelucos, que eram cristãos. Um era português, filho de um capitão e se chamava George Ferrero (Jorge Ferreira), cuja mãe era índia (filha de João Ramalho).

"O outro, chamava-se Hièronymus (Jerônimo); este ficou prisioneiro de um selvagem morador na mesma cabana em que eu estava e cujo nome era Parwaa (Parauá). Assou a Hièronymus de noite, mais ou menos à distância de um passo do lugar onde eu estava deitado. Esse Hièronymus era parente consangüíneo de Diego Praga (Diogo de Braga)."

Fica, assim, devidamente reconstituído o ambiente heróico de Bertioga, primeiro ponto civilizado da Capitania, assolado pela gente antropófaga de Aimberê e Cunhambebe, atalaia das primeiras vilas paulistas.

Quem seriam porém, verdadeiramente, esses Braga?

Pela época atribuída por Hans Staden ao seu primeiro aparecimento em Bertioga, com a construção da casa-forte por ele citada (1547/1548), somos levados a supor que o mais moço, por efeito da ação exigida de cada um deles, naquela vida de guerra que levavam, tivessse no mínimo dezoito anos de idade e o mais velho dos cinco, vinte e cinco ou vinte e seis. Assim, recuado no calendário o tempo eqüivalente às idades máximas e mínimas desses irmãos, temos que o nascimento de todos eles fora anterior à chegada de Martim Afonso, visto que o mais moço teria nascido em 1529, e o mais velho em 1521/1522.

Admitida a certeza com que se expressou Hans Staden, jamais posta em dúvida por qualquer dos historiadores que trataram do mesmo assunto e repetiram as cenas por ele descritas, somos obrigados a aceitar que Diogo de Braga, o velho, progenitor destes primeiros santistas, foi também um dos misteriosos e esquecidos da primeira colonização, ao lado de João Ramalho e Antônio Rodrigues, ocupante, talvez, de terras adjacentes ao lugar da futura Santos, companheiro ainda do "Bacharel" Mestre Cosme, de Gonçalo da Costa, de Francisco de Chaves, de Pero Capico e Henrique Montes (estes dois vindos em retorno com Martim Afonso de Souza, como práticos da região e escrivão da Armada).

O essencial é sabermos que os Braga existiram e que foram, até às proximidade do acordo de Iperoig, as figuras exponenciais, abroqueladoras de toda a obra de Martim Afonso, o fundador do Brasil, título que cabe melhor do que o de fundador de São Vicente, com mais direito e com mais verdade, dando a Bertioga a posição privilegiada de Colunas de Hércules da primeira Civilização brasileira.

Se os gregos aprenderam a venerar as suas Termópilas e o seu Leônidas, lendário ou não, deviam os paulistas, pelo menos, aprender a amar e venerar as suas Termópilas e os seus Leônidas (cinco) do sítio e barra de Bertioga, representados naquele momento que a idade não conseguiu vencer, e que contêm toda uma grande História, de São Paulo e do Brasil.

Afinal, todo o heroísmo dos Braga e toda a coragem de Pascoal Fernandes, aceitando o posto de Condestável naquele reduto avançado mas não inexpugnável de Bertioga em 1557, teria sido inútil se não sobreviesse, coroando toda aquela longa página de esforços, heroísmo e sacrifício, o Armistício de Iperoig, que foi mais, em verdade, um perfeito tratado de paz, começado apenas com o armistício de 1563.

Anunciava-se a Confederação dos Tamoios, isto é, a reunião de todas as tribos sujeitas a Coaquira, Aimberê, Cunhambebe e Pindobussu, num total de quinze a vinte mil guerreiros, para uma descida de extermínio sobre a Bertioga, Santos, São Vicente, para que nada ficasse ali dos "peros" ou portugueses. Afirmava-se que a onda humana visava não só à reconquista da terra como à punição de alguns apresamentos de tupinambás, especialmente mulheres, levados a efeito por caçadores reinóis.

Soavam lugubremente, nas solidões de Maiembipe e Ubatuba, os trocanos de guerra; e as danças selvagens, as poracés prenunciadoras de batalhas, já se realizavam em torno das grandes tabas ubatubanas.

A notícia terrível caíra em Santos e S. Vicente como um dobre de finados, alarmando os arraiais cristãos com a tempestade selvagem que se armava sobre as suas cabeças. Bertioga seria o primeiro ponto arrasado pela onda irresistível e barbaresca.

Para conjugar a ameaça anunciada, organizou-se às pressas em Santos uma embaixada de paz destinada a Ubatuba. Voluntários da morte deviam integrar essa embaixada, que, pela melhor das suposições, nunca mais voltaria.

Manuel da Nóbrega e José de Anchieta foram os iniciadores desse movimento. E quem senão eles? Mas encontraram num civil, José Adorno, o nobre rico e genovês, senhor do Engenho de São João, que tão ativamente participara da fundação de Santos, o secundador e companheiro, o condutor destemeroso para Ubatuba.

E foi numa clara manhã, após o ato religioso celebrado na Capela dos Adornos ou de Santo Antônio de Guaíbe, em Bertioga, que partiram os barcos de José Adorno, conduzindo a pequena expedição de paz para o terrível ambiente de guerra. Os fatos são conhecidos e até hoje rememorados.

Um mês depois, José Adorno voltava trazendo apenas Manuel da Nóbrega, mas vinham alguns tamoios dos mais classificados. Soube-se de tudo então. José de Anchieta ficara como refém, garantindo a volta de Nóbrega e dos próprios tamoios, afiançando o cumprimento do armistício combinado das pazes entre indígenas e portugueses e seus descendentes, nas bases estabelecidas em Iperoig (que era o nome da praia de Ubatuba).

Tudo saiu bem. Os emissários tamoios foram bem recebidos e festejados, em Santos e São Vicente. Estava salva a obra de Martim Afonso e seus continuadores, Anchieta voltaria glorificado.

E só daquele ano de 1563 em diante puderam os portugueses e brasileiros de Santos tornar às antigas glebas da região, para a nova fase agrícola industrial da marinha, que deveria dar vitalidade e força à penetração do planalto e dos sertões.

Pouco depois, de 1565 a 1568, novos acontecimentos extraordinários tinham palco em Santos e Bertioga. Aprestavam-se as expedições de socorro ao Rio de Janeiro, onde Estácio de Sá pretendia fundar a cidade de São Sebastião, em cumprimento às ordens do Rei.

Grande papel têm, nessas páginas cívicas e militares da região e do Brasil, Manuel da Nóbrega e Bertioga, onde a Armada, reforçada por todos os barcos de José Adorno e toda a gente do seu Engenho, escravos e colaboradores, incluindo seu gerente, o alemão Eleodoro Eobano (nomeado comandante da força particular), aguardava a ordem de partida, da qual resultaria, afinal, a fundação da primeira São Sebastião, na antiga praia de Martim Afonso.

Foi na manhã de 27 de janeiro de 1565 que partiu de Bertioga a Armada estaciana, em que seguia a flor da população da Vila santista, para cumprimento da grande missão civilizadora. Homens como Francisco Velho venderiam suas casas de Santos, para poderem povoar a nova cidade da Guanabara, e a este mesmo caberia dar o primeiro nome à Enseada (o seu próprio nome) que mais tarde passaria a denominar-se de "Botafogo". O próprio juiz de Santos - Pedro Martins Namorado - seria, pouco depois, o primeiro juiz de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Na fundação da futura capital brasileira, uma notícia alegrava os santistas, mais do que todas as outras. Dois daqueles heróis de Bertioga - Diogo de Braga e Domingos - não haviam morrido; exatamente aqueles que Hans Staden vira os tamoios aprisionarem, descrevendo-os e destacando-os entre os seis mamelucos, que durante duas horas haviam lutado contra trinta e tantas embarcações tamoias, representando uma força de seiscentos guerreiros indígenas.

Domingos e Diogo de Braga, os dois irmãos remanescentes dos cinco, apareciam ao lado de Estácio de Sá, combatendo os franceses de Villegagnon, e a indiada feroz da Guanabara, e prosseguindo combate ao lado de Mem de Sá após aquele glorioso embate de 20 de janeiro de 1867 (N.E.: ano correto é 1567) (batalha de Uruçumirim) em que seria ferido de morte o chefe Estácio de Sá.

Diogo de Braga, o renascido do cativeiro tamoio, apareceria depois, como um dos três primeiros vereadores do Conselho da Câmara de São Sebastião do Rio de Janeiro [11].

Era a história de Bertioga heróica, a se estender pela nova história que Diogo e Domingos de Braga ajudavam a criar.

Bertioga hoje é o grande e único Distrito do Município de Santos (N.E.: o texto é anterior à criação do Município de Bertioga). A história do seu desenvolvimento através dos séculos, apesar da sua sede santista e do abandono em que por muitos e muitos anos esteve, é rica de detalhes, de pitoresco e de poesia. A partir do século XVII a vida do antigo núcleo do continente extinguiu-se quase de todo. A falta de água limitou o desenvolvimento de Bertioga, que foi passando para a Ilha de Santo Amaro, onde havia um núcleo antigo, água pura e abundante, terras para cultivo, fortaleza de pedra para defesa, grande igreja para orações, bom porto de calado, material de construção, madeira, barro, pedra e cal de sambaqui e haveria, ainda, uma grande indústria: a de pesca das baleias e produção de óleo para iluminação pública e particular, com a instalação do Real Contrato da Armação.

Bertioga em 1700 transfere-se totalmente para o outro lado e transforma-se numa Vila, que por pouco seria oficializada.

Era essa a sua situação, ainda em 1807, quando por ali transitou o mineralogista inglês John Mawe, saído de Santos de canoa, cujo depoimento descrevemos [12].

"Assim desenganados, resolvemos não aguardar navio em Santos, mas seguir para o Rio de Janeiro numa canoa, margeando a costa. Alugada uma, embarcamos; depois de remarmos toda a noite num estreito que separa o continente da Ilha de Santo Amaro, que constitui uma das passagens para Santos, chegamos ao nascer do sol a Bertioga, situada no extremo daquela Ilha. É pequena a cidade, com algumas construções toleráveis e boas, erguidas por conveniência do Capitão-mor e seus ajudantes que superintendiam um estabelecimento de pesca, similar ao das proximidades de Santa Catarina, pertencente à mesma Companhia, mas muito inferior em tamanho e capacidade. Em ambos, os negros mais hábeis ocupavam-se no preparo de barbatanas de baleia, produto de considerável comércio, embora sejam menores e de menor valor que as da Groenlândia. O litoral que costeamos, possui várias e belas baías, onde, na estação piscosa, apanha-se, anualmente, grande número de baleias. Os edifícios para derreter a gordura e armazenar o óleo estão convenientemente instalados.

"O famoso porto de Bertioga é bem abrigado dos ventos, e a própria cidade, situada no topo da colina, acha-se protegida das inclemências do tempo e, às vezes, bastante quente. A base da colina é de granito primitivo, composto de anfibólio, feldspato, quartzo, e mica. Belas nascentes de água, jorrando de vários pontos, dão grande variedade ao cenário, e uma agradável frescura ao ar. Embora o lugar apresente aspecto pobre, não se observam indícios de miséria; o mar fornece grande quantidade e variedades de peixes comestíveis, e o solo produz leguminosas de todas as qualidades, e arroz que, em grande porção, é transportado em barcos para Santos. As  pessoas com quem tratamos mostraram-se corteses, parecendo ansiosas por adivinhar e satisfazer os nossos desejos. Doente, o Capitão-mor não pôde auxiliar-nos na procura de passagem para São Sebastião, fomos portanto obrigados a alugar uma canoa, a fim de prosseguir, etc...." [13].

O depoimento é importante, como vemos, e aponta a existência de uma cidade - pequena mas com algumas construções toleráveis e boas, instalações industriais, edifício para derreter gorduras e armazéns de óleo, e um famoso porto bem abrigado dos ventos, cercada de produções de legumes e de arroz exportáveis; fontes de excelentes águas, e outras coisas mais [14].

NOTAS:


[1] O estudo do topônimo Bertioga, inicialmente ligado ao único morrinho local de Buriquióca - mais tarde "de São Lino" e atualmente da Senhorinha, consta do capítulo especial e apropriado: "Toponímia Santista". Para ele enviamos o leitor.

[2] É sabido que Martim Afonso, logo após sua entrada em São Vicente e sua posse da Capitania, mandara os soldados e defensores de Bertioga abandonarem o Fortim e se recolherem à Vila capital, convencido de que ninguém iria molestar a sua obra e a sua gente.

[3] Foi nesta aventura agrícola de José Adorno que o ilustre fidalgo genovês, o maior dos fundadores de Santos, construiu a Igreja ou grande Capela de Santo Antônio de Guaíbe (documentada no mapa setecentista existente no Museu Naval de Madri, de autor anônimo), ainda hoje uma das mais belas ruínas históricas de Bertioga (lado da Ilha de Guaíbe ou Santo Amaro).

Também esta ruína é hoje (N.E.: texto escrito originalmente em 1937) assistida pelo Instituto Histórico e Geográfico Guarujá-Bertioga, evitando-se, desse modo, a sua destruição pelo tempo.

Anos atrás, seu abandono era completo e as figueiras brancas, com suas poderosas raízes, como tentáculos enormes, tanto protegiam algumas partes dela como destruíram e ameaçavam destruir outras partes, deslocando os blocos de pedra e cal de sambaqui.

Certa vez, um grande embaixador de país europeu, ao visitar esta ruína, onde lhe servíamos de "cicerone", contemplando-a, ao lado do prefeito de Santos, não conteve estas palavras:

 "- Em meu país esta ruína seria um monumento nacional, e aqui, pelo que vejo, não chega a ser nem mesmo uma ruína zelada!"

Nessa ocasião, tirando do bolso a carteira, dela sacou uma nota de 500$000, convidando o prefeito a fazer o mesmo:

"- Senhor prefeito, vamos casar aqui um dinheiro, para mandar limpar este monumento?"

Foi uma grande lição dada pelo embaixador estrangeiro ao alcaide santista, a que assistimos entre envergonhados e satisfeitos.

Consta que o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a pedido daquele mencionado Instituto Histórico, vai restaurar a célebre igreja bertiogana.

[4] Cartório da Provedoria da Fazenda Real de S. Paulo - Livro de Registro de Sesmarias - Lit. 1562 até 1580, fl. 11, verso - Transcrição em Frei Gaspar da Madre de Deus, Memórias para a História da Capitania de São Vicente, 3ª ed., p. 289.

[5] Este Cristóvão Monteiro era exatamente sogro de José Adorno e fazia parte do conselho da Vila de Santos.

[6] Cartório da Provedoria da Fazenda Real de S. Paulo - Livro de Registro de Sesmarias - Lit. 1562 até 1580, fl. 45, verso - Transcrição em Frei Gaspar - obra citada p. 289.

[7] Hans Staden - Viagem ao Brasil - Versão do texto de Marpurgo, de 1557, por Alberto Lofgren - Edição da Academia Brasileira de Letras, 1930, p. 55/57.

[8] Ele viera em 1549/1550. A construção indicada era de 1547.

[9] A casa-forte era o primeiro forte de São Tiago (Sant'Iago), sem levar-se em conta aquela primeira estacada construída por Martim Afonso em 1531, destruída e abandonada por ele mesmo em 1532. Assim, o ano de 1547 deve ser considerado como o da fundação ou ereção desta Fortaleza, que em 1947 completou quatro séculos de existência, ocasião em que publicamos um opúsculo em homenagem à efeméride (e ao mesmo tempo ao 10º aniversário de fundação do Instituto Histórico e Geográfico de Santos), sob o título de Bertioga Histórica e Legendária - 1531/1947 - Edição Armando Lichti, 51 págs.

[10] Documenta-se desta forma a construção do Forte de pedra "São Felipe", mais tarde "São Luís" (a partir da restauração de D. Luís Antônio de Sousa). Ordens de Tomé de Sousa; execução de Brás-Cubas, Capitão-mor.

[11] A primeira Câmara da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro tinha a seguinte composição: Aires Fernandes (Juiz Ordinário), Francisco Dias Pinto, Cristóvão Monteiro (sogro de José Adorno), e Diogo de Braga (vereador), Gomes Ennes (ou Eanes?) - procurador do Conselho. Funcionava esta Câmara ou Conselho em casa do juiz Aires Fernandes, enquanto a casa da Câmara estava ocupada pelo Governador Geral.

[12] John Mawe - Viagens ao Interior do Brasil principalmente aos distritos do Ouro e dos Diamantes, 1807/1808 - Tradução de Solena Benevides Viana - Introdução e notas de Clado Ribeiro Lessa - Rio, ed. Zélio Valverde, 1944.

John Mawe é o autor também da obra publicada em Londres, no ano de 1812: The Mineralogy of Debershire.

[13] O viajante não se refere ao outro lado do rio (a Bertioga de hoje), às Fortalezas e à secular Igreja de Santo Antônio de Guaíbe, ali mesmo junto à cidade que ele descrevia, e junto aos tanques ou depósitos iniciais do óleo saído das caldeiras. Também não faz um cálculo dos habitantes ali sediados nem do número dos escravos e trabalhadores de Contrato de Armação ou da produção, o que devemos fazer, por indução e analogia, calculando que, entre chefes, soldados, técnicos de fabricação, escravos, operários especializados, arpoadores, remeiros, marinheiros, canoeiros, cordoeiros, famílias, agricultores, pescadores e outros, a cidade de Bertioga, encontrada por John Mawe, não podia ter menos de 500 ou 600 habitantes.

[14] Que resta hoje do famoso porto de Bertioga. Transferindo-se a vida bertiogana para a terra firme (o outro lado do rio, baixo, doentio, paludoso, sem água, sem matéria-prima para construções) após a extração da indústria da pesca das baleias (cerca de 1830), foi Bertioga decaindo, transformada em sítio e chácaras pobres e de veraneio das famílias abastadas de Santos, parecendo uma tapera ao princípio do século XIX, apenas cercada de belezas naturais, tranqüilidade, pitoresco e poesia. Até o porto antigo (famoso em 1807), e tão rico de história, onde fundeara Martim Afonso em fins de 1531, foi abandonado, restando dele apenas um pequeno trecho de cais em ruína. Suas fontes de águas minerais, magnesianas, alcalinas e talvez oligometálicas, foram abandonadas ao mato, e, assim, o pouco que restou da sua antiga grandeza.

Hoje, já nem peixe, quase, se encontra em Bertioga, sendo necessário que seus hotéis e suas pensões se abasteçam de pescado e crustáceos em outras praças para atender à preferência de seus hóspedes. Outrora, com uma horticultura domiciliar, porém bem diversificada, suficiente para o seu consumo, hoje, também, depende das verduras e legumes de fora para a alimentação da vila. Até as frutas desapareceram... a carambola, o jambo, a goiaba, o cambucá, o cambuci, a laranja, o caqui e a tangerina... tudo desapareceu, restando apenas algumas poucas árvores isoladas. Só a banana resistiu por mais tempo, em algumas áreas, mas já está sendo dizimada, e não subsistirá muitos anos.

Sob esse aspecto o progresso arruinou Bertioga. As áreas, ontem, de cultura, foram transformadas em loteamentos. Lamentavelmente, os pescadores e os pequenos lavradores não tiveram nenhuma proteção.

***

 História de Santos/Poliantéia Santista. Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti (Ed. Caudex Ltda., São Vicente/SP, 1986).



FORTE SÃO JOÃO DA BERTIOGA

(ANTIGO FORTE DE SÃO TIAGO)


Com o primitivo nome de Sant'Iago e depois rebatizado como Fortaleza de São João da Barra de Bertioga, tendo à frente (do outro lado do canal, já na ilha de Santo Amaro) o Forte de São Felipe, conserva-se até hoje em destaque no município essa edificação do século XVI.

Um livrete de 62 páginas, produzido em 1967 pela Comissão Organizadora do Museu João Ramalho, com apoio do Instituto Histórico e Geográfico Guarujá-Bertioga, descreve (em português e em inglês, traduzido por Maria Ângela Lobo de Freitas Levy) esse museu, instalado na fortaleza. A obra foi composta e impressa nas oficinas de Artes Gráficas Bisordi S.A., na capital paulista. O exemplar pertence ao acervo do professor e pesquisador de História, Francisco Carballa, de Santos (transcrição integral - páginas 7 a 10):



BERTIOGA – 1531 – Bertioga tem lugar marcante na história do Brasil, desde a primeira passagem de Martim Afonso de Souza, que ali aportou em 1531, antes de se fixar em S. Vicente no ano de 1532, iniciando o surto de civilização, que, ultrapassando o planalto, tornou possível a formação do país.

JOÃO RAMALHO – 1532 – Já existindo um início de colonização, Martim Afonso de Souza envia João Ramalho com alguns homens armados a Bertioga, para verificarem a possibilidade do estabelecimento de uma fortificação, como principal defesa às invasões dos Tamoios, que, vindos de Iperoig e Maembique, atuais Ubatuba e S. Sebastião, atingiam pelo canal a novel vila de S. Vicente.

IRMÃOS BRAGA – 1532 – Com João Ramalho, entre outros portugueses, estava Diogo de Braga, personagem proeminente na formação e defesa da Bertioga, juntamente com sua mulher indígena e cinco filhos, e que são os primeiros colonos citados nominalmente por diversos historiadores, acordes em reconhecer seus esforços na construção da primitiva paliçada, no desenvolvimento de uma fazenda, com a principal cultura da cana-de-açúcar e na defesa do núcleo nascente aos assaltos dos ferozes silvícolas.

FORTE DE SÃO TIAGO – 1547 – Após terrível carnificina, a que escaparam apenas 8 cristãos, ficou positivada a necessidade da construção de um forte que pudesse oferecer maior resistência aos ataques inimigos, e, assim, foram os Irmãos Braga que, unidos aos sobreviventes e a novos colonos, levantaram as fundações do Forte de São Tiago, no mesmo local da primitiva paliçada.

FORTE DE SÃO FELIPE – 1550 – Por ordem real, cumprida por Braz Cubas, foi construída do outro lado do canal da Bertioga, na Ilha de Santo Amaro, uma casa forte – que tomou o nome de São Felipe.

HANS STADEN – 1550 – Essa primitiva fortaleza teve como condestável o artilheiro alemão Hans Staden, contratado pelo governador-geral Tomé de Sousa. Os dois fortes, São Tiago e São Luís, com seus fogos cruzados, em muito auxiliaram a defesa da incipiente colônia, impedindo as incursões pelo canal da Bertioga.

RECONSTRUÇÕES – 1557/1560 – No ano de 1557 foi a Fortaleza de São Tiago reconstruída, reforçada e ampliada, trabalhos de que se incumbiu o fidalgo português Antônio Rodrigues de Almeida, almoxarife da Capitania, e, nesse mesmo ano, determinou o capitão-mor Jorge Ferreira, governador da Capitania, fosse reconstruído o Forte de São Felipe, ordem que somente foi cumprida no ano de 1560.

ARMISTÍCIO DE IPEROIG – 1563/1564 – Partindo de Santos e com escala na Bertioga, os abnegados padres Nóbrega e Anchieta, em expedição custeada e acompanhada por um dos irmãos Adorno, seguiram para Iperoig, para tentar a pacificação dos tamoios, tendo lá ficado como refém o padre José de Anchieta, que conseguiu, pela sua fé e força moral, a paz almejada.

FUNDAÇÃO DO RIO DE JANEIRO – ESTÁCIO DE SÁ, ANCHIETA, NÓBREGA, ADORNOS – 1565 – Em 1565, após missa rezada pelo padre Manuel da Nóbrega, a chamado e em auxílio de Estácio de Sá, partiram da Bertioga o apóstolo José de Anchieta e os irmãos Adornos, que forneceram diversas naus e embarcações a remo e suas respectivas tripulações cristãs e indígenas, possibilitando, em união com as forças vindas de São Vicente e da Bahia, a primeira retomada do Rio de Janeiro.

SEGUNDA EXPEDIÇÃO – 1567 – Em 1567, novamente partem eles da Bertioga, muito melhor aparelhados em naus, embarcações e homens, e apoiam decisivamente Mem de Sá e Estácio de Sá na luta pela posse definitiva do Rio de Janeiro, tendo sido preponderantes os esforços desses pioneiros e particularmente do padre José de Anchieta, na expulsão dos franceses e seus aliados.

ARTILHARIA – 1760/1761 – Foi o Forte de São Tiago provido de novo armamento, representado justamente, entre outras peças, pelos 3 históricos canhões, remanescentes da época.

FORTE DE SÃO LUÍS – 1765 – Em 1765 foi o Forte de São Felipe reconstruído e ao mesmo tempo mudado o seu nome para São Luís, em homenagem ao governador d. Luís Antônio de Sousa.

FORTE DE SÃO JOÃO DA BERTIOGA – 1765 – A mudança do nome do Forte de São Tiago para o de São João da Bertioga teve a influência da capela erigida a este santo, quando de reformas procedidas na casa da guarnição do Forte.

GUARNIÇÃO – 1772 – No ano de 1772, contava a Fortaleza de São João da Bertioga com uma guarnição completa, de onde eram tirados os destacamentos para São Sebastião e Ubatuba.

PLANTA DO FORTE – 1817 – A mando do conde da Palma, governador da Província, esteve na Bertioga o oficial Rufino José Felizardo e Couto, que nessa ocasião levantou a planta que vemos a fls. 17, e em seu relatório, depois de estudar as províncias para reforma e ampliação do quartel do Forte, faz referência ao armamento existente dizendo textualmente: "Acham-se neste Forte 9 bocas-de-fogo, todas de ferro fundido, desta só achei 3 que ainda poderão servir, a saber, duas de calibre 9 e uma de calibre 6, que é a melhor…"

RESTAURAÇÃO – 1945 – Em 1945 foi a Fortaleza de São João da Bertioga restaurada pela Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, consolidando-se suas bases ameaçadas e seus baluartes.

MUSEU JOÃO RAMALHO – 1962 – Em virtude de entendimentos do Instituto Histórico e Geográfico Guarujá-Bertioga com a benemérita Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, superiormente dirigido pelo dr. Rodrigo Mello Franco de Andrade, foi procedida a completa reforma da Casa do Forte, possibilitando em vista do acordo firmado a instalação do Museu João Ramalho, que perpetuará as glórias do nosso passado.

Celso Corrêa Dias

Diretor secretário


O MUSEU JOÃO RAMALHO



Planta do Forte São João da Bertioga em 1817 (vide nº 24 do catálogo). Nota: na restauração procedida em 1961 pela Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (D.P.H.A.N.) coadjuvada pelo Instituto Histórico e Geográfico Guarujá-Bertioga, não foi possível recompor na íntegra as ruínas do forte, de forma a refazer esta planta de 1817, o que se espera realizar em uma segunda etapa, quando da obtenção de novos recursos. (N.E.: na verdade, nº 23) Fonte: Novo Milênio. 


PARTE EXTERNA

Cruzeiro de ferro do século XVI, com a esfera armilar, proveniente de Caravelas, no Estado da Bahia. Doação do dr. Hermínio Lunardelli.


Nº 5 – oratório jesuítico, do século XVII, de sucupira, alt. 1,10 m por 0,83 m de largo e 0,21 m de fundo.

Nº 6 – par de castiçais de madeira (cedro do século XIX, alt. 0,60 m.

Nº 7 – crucifixo pequeno, de madeira, pintado de verde, com o Cristo de chumbo. Doação do dr. Pedro de Oliveira Ribeiro Neto.

Nº 8 – pia batismal, de pedra, proveniente da igreja do Cubatão, diam. 0,48 m.

Nº 9 - confessionário colonial, de canela, pintado de azul, alt. 1,65 m. Doação de Lúcia Figueira de Mello Falkenberg.

Nº 10 – par de vasos de altar, para palmas, de madeira imitando mármore, alt. 0,33 cm. Doação do sr. Francisco Roberto.

Nº 11 – crucifixo de madeira, pintado de preto, com resplendor de talha dourado, com Cristo de madeira, policromado, alt. 0,74 cm. Doação de Paulo Monteiro.

Nº 12 – quadro contendo poesia do Padre José de Anchieta, traduzido do tupi por Pedro de Oliveira Ribeiro Neto, em pergaminho. Oferta do calígrafo J. T. C. Chaguri. Texto na página nº 2r. (N. E.: na verdade, página 58)

Nº 13 – Jesus carregando a Cruz – imagem encontrada numa pequena capela no litoral Norte de São Paulo.

Nº 14 – mesa rústica, de canela, do litoral paulista, alt. 0,86 m, tampo 1,27 m x 0,63 m.

Nº 15 – par de cadeiras de dobrar, tipo conhecido por "Bandeirantes" por seu fácil transporte em lombo de animais.

Nº 16 – par de cadeiras rústicas coloniais, de madeira, com assento de junco trançado, tipo do século XVII, com travessa superior do espaldar de forma pentagonal, de uso tanto no Brasil como na Espanha e suas colônias americanas.

Nº 17 – gamela de faveiro, usada no litoral.

Nº 18 – bandeira das "Quinas", com seu mastro.

Nº 19 – bandeira da "Ordem de Cristo", com seu mastro.

Nº 20 – retrato alusivo a João Ramalho – feito por Hermann Greiser; palavras do dr. Aureliano Leite.





Nº 21 – quadro contendo um mapa policromado, do século XVII, representando parte da Costa e no qual é assinalado o Forte São João da Bertioga. Proveniente da obra do carmelita João José de Santa Teresa, "Isotrie delle guerre del Regno del Brasile accurade tra la corona di Portugallo e la Republica di Ollanda composta e offerta allo sagra Reale Maesdá di Pietro Secondo Ré di Portugallo", Roma, 1698. (Vide Rubens Borba de Morais: "Bibliografia Brasiliana", 2º vol., pág. 230). O mapa foi reproduzido na capa. Doação do dr. Herminio Lunardelli.

Nº 22 – cofre de madeira usado pelos "Bandeirantes" – em custódia – pertence a d. Lúcia Falkenberg.

Nº 23 – quadro contendo planta do Forte, cópia do original existente no Arquivo do Estado de São Paulo [1] e que foi levantada em 1817 por Rubino José Felizardo da Costa, por ordem do Conde da Palma.

Nº 24 – quadro contendo a poesia "Celula Mater" do poeta Pedro de Oliveira Ribeiro Neto, escrita em caracteres góticos por J. T. C. Chaguri.

Nº 25 – par de candeias de ferro. Doação do sr. Francisco Roberto.

Nº 26 – banco tripé colonial, de cedro.

Nº 27 – ferro para confecção de hóstias, jesuítico. Doação da sra. Zelina Castelo Branco, hastes 0,65 m, chapas gravadas de 0,15 m.

Nº 28 – catre de jacarandá com leito de couro, cabeceira recortada, pés torneados com barramentos, remates das colunas em tronco de pirâmide. Exemplar de transição com alguns característicos do século XVII e outros já do XVIII. Leito: 1,65 m x 0,70 m, alt. 0,50 m. Doação do dr. Hermínio Lunardelli.

Nº 29 – crucifixo primitivo paulista, de madeira, com Cristo e Nossa Senhora policromados, alt, 0,36 m. Doação do sr. Francisco Roberto.

Nº 30 – mesa baixa de canela, do litoral paulista. Tampo 1,00 m x 0,62 m, alt. 0,47 m.

Nº 31 – oratório colonial de madeira, pintado, alt. 0,78 m, larg. 0,40 m e 0,20 m de fundo. Doação da sra. Rita Lebre de Mello Corrêa Dias.

Nº 32 – mocho de madeira, com assento de couro do litoral do Estado, alt. 0,48 m e 0,32 m de assento.

Nº 33 – pote de barro paulista.

Nº 34 – São Domingos, imagem de barro paulista, alt. 0,24 m. Doação da sra. Rita Lebre de Mello Corrêa Dias.

Nº 35 – castiçal antigo de estanho, alt. 0,20 m. Doação do sr. Francisco Roberto.

Nº 36 – missal de 1789, editor Belin, em francês, capa de couro. Doação de Pedro de Oliveira Ribeiro Neto.

Nº 37 – jarra e bacia de barro – litoral paulista.

Nº 38 – cadeira articulada de canela, assento de sola trabalhada e tacheado, travessas do espaldar de madeira, exemplar do gênero do século XVII. Doação de Lúcia Figueira de Mello Falkenberg.

Nº 39 – cabide rural de madeira, pintado, com seis braços e prateleira. Comprimento: 1,70 m por 0,24 m de fundo e 0,27 m de alto. Doação do sr. Francisco Roberto.




Nº 40 – toalha de algodão franjada em barras de abrolhos. Doação da sra. Rita Lebre de Mello Corrêa Dias.

Nº 41 – arca de cedro do litoral, com alças de ferro e fechadura.

Nº 42 – candeia de ferro antiga, usada no litoral com óleo de baleia. Doação da sra. Maria José Botelho Egas.

Nº 43 – imagem de Santo Antônio com livro e Menino Jesus, de cedro policromado, que pertence à Ermida de Santo Antônio de Guaibê, na Ilha de Santo Amaro, talha do século XVII, em custódia, alt. 0,95 m.

Nº 44 – chave encontrada na Ermida Santo Antônio de Guaibê.

Nº 45 – mocho pequeno, usado no litoral paulista.

Nº 46 – bandeira de mastro de festa – com requadro de madeira representando S. João, Santo Antonio, S. Pedro e São Benedito. Doação: Francisco Roberto.

Nº 47 – catre de jacarandá pardo com característicos do século XVII, pés retos, leito de tábuas, cabeceira pentagonal com ápice em ângulo obtuso muito em voga no litoral de São Paulo, e com remates poliédricos nas duas colunas da cabeceira.

Nº 48 – crucifixo paulista de madeira com Cristo de barro policromado. Doação do sr. Francisco Roberto.

Nº 49 – mocho baixo, de cedro, do litoral.

Nº 50 – pote de barro paulista.

Nº 51 – ferro de tronco de escravo, do período colonial, que pertence ao sr. Francisco de Barros Mello, em custódia.

Nº 52 – tornozeleira de ferro articulada. Idem, idem.

Nº 53 – gargalheira com espigão esgalhado de ferro para dificultar a marcha de escravos foragidos na mata. Idem, idem.

Nº 54 – corrente antiga. Doação da sra. Maria José Botelho Egas.

Nº 55 – grilhão de preso (algemas) ou de escravo, com chave.

Nº 56 – candeia antiga.

Nº 57 – mesa grande antiga, de cedro, com pés em cavalete. Tampo: 2,35 m x 0,75 m, alt. 0,82 m.

Nº 58 – mochos antigos, de assento de couro, do litoral do Estado.

Nº 59 – balança antiga de ferro com os pratos. Suporte alt. 1,21 m, braços 0,77 m. – Em custódia – pertence a d. Lucia Falkenberg.

Nº 60 – pilão do litoral, alt. 0,80 m.

Nº 61 – 3 mãos de pilão de madeiras diversas, do litoral.

Nº 62 – tamborete antigo de madeira.

Nº 63 – tacho pequeno de cobre, restaurado.

Nº 64 – panela de barro, com alças.

Nº 65 – prato fundo, de barro.

Nº 66 – gamela redonda, com orelhas, de madeira do litoral.

Nº 67 – candeia de ferro.

Nº 68 – almofariz de ferro com mão, diam. 0,13 m, alt 0,20 m, mão 0,30 m. Pertence ao sr. Francisco de Barros Mello, em custódia.

Nº 69 – almofariz pequeno, de bronze, idem, idem, idem.

Nº 70 – 3 pesos antigos de balança, com alças; idem, idem.

Nº 71 – pichel de ferro antigo. Doação do sr. Francisco Roberto.

Nº 72 – talha grande, antiga, de barro (torneira moderna). Doação do dr. E. F. Brancante.

Nº 73 – panela de barro, proveniente de Parati (Estado do Rio). Doação do sr. Francisco Roberto.

Nº 74 – gamela de barro proveniente de Embu. Doação do sr. Francisco Roberto.

Nº 75 – pote de barro, pequeno, com tampa; idem, idem.

Nº 76 – tamboladeira pequena de barro; idem, idem.

Nº 77 – candeia de ferro antiga.

Nº 78 – 2 cadeiras de couro articuladas – século XVII (em custódia) – pertencentes a d. Lúcia Falkenberg.

"Corredor para a Sala de Armas"

Nº 79 – candeia de ferro antiga. Doação da sra. Marina Brito.

Nº 80 – arca de couro, tacheada, com as iniciais J. J. S., medindo 0,67 m x 0,34 m com 0,41 m de alto. Doação de Lúcia Figueira de Mello Falkenberg.

Nº 81 – suporte de madeira para arca.

Nº 82 – painel com a representação da Torre de Belém, executado por Gontran.

Vide nº 88 do Catálogo

Foto publicada na página 51 do livrete

Nº 83 – 84 – 85 – 86 – quadro painéis alusivos à navegação e à colonização lusas, de Gontran.

Nº 87 – almofariz grande de ferro sem mão, alt. 0,26 m, boca 0,27 m. Doação da sra. Maria José Botelho Egas.

Nº 88 – modelo miniatura de caravela pertencente ao Museu Militar de Sâo Paulo, em custódia.

Nº 89 – modelo miniatura de barco de pesca – usado no litoral paulista – doação dos moradores da Ilha do Montão de Trigo.

Nº 90 – osso e vértebra de baleia, encontrados nas proximidades do Forte.

Nº 91 – 7 balas de canhão, de ferro, encontradas no recinto do Forte por d. Lúcia Figueira de Mello Falkenberg.

Nº 92 – corrente de ferro com ganchos. Doação da sra. Maria José Botelho Egas.

Nº 93 – couraça antiga, constando de peitoral e dorso. Doação do dr. E. F. Brancante.

Nº 94 – rapieira (de copo) de origem portuguesa, correspondente ao período das Bandeiras, com as seguintes inscrições nas calhas: "Punapella Patria". Empréstimo (já devolvida).

Nº 95 – lança usada no Brasil – século XVIII.

Nº 96 – Lanterna antiga de ferro.

Nº 97 – espada com punho de metal com bainha de couro, lâmina de aço alemã, com a marca de "Alex Copel – Solingen". Provavelmente de uso da Milícia de São Paulo em 1936. Doação do sr. Aurélio Soares Nerino.

Nº 98 – revólver do século XIX. Doação da sra. Maria Carlota Pinto Coutinho.

Nº 99 – revólver pequeno do século XIX; idem, idem.




Nº 100 – 3 machados de pedra usados pelos indígenas. Doação da sra. Lúcia Figueira de Mello Falkenberg.

Nº 101 – machado de pedra de índio com seu estojo de madeira, pertencente ao sr. Francisco de Barros Mello, em custódia.

Nº 102 – pistola de 2 canos do século XIX. Doação da sra. Maria Carlota Pinto Coutinho.

Nº 103 – forqueta de ferro, para arcabuz. Doação do sr. Francisco Roberto.

Nº 104 – pique (partazana) do período colonial. Doação do sr. Francisco de Barros Mello.

Nº 105 – 2 garruchas antigas, de um cano e de dois, pertencentes ao sr. Francisco de Barros Mello, em custódia.

Nº 106 – bala de canhão de ferro, raiada; idem, idem.

Nº 107 – baioneta "estripadeira" antiga; idem, idem.

Nº 108 – baioneta de marinha; idem, idem.

Nº 109 – espingardas antigas de diferentes manufaturas e períodos (11 de espoleta e 1 de percussão) pertencentes ao sr. Francisco de Barros Mello, em custódia.

Nº 110 – cordame e rede.

Nº 111 – punhal antigo, de origem espanhola. Doação do sr. Pedro de Oliveira Ribeiro Neto.

Nº 112 – Histórico em gravuras da vida de Hans Staden em terras do Brasil e sua prisão, pelos tupinambás, durante 9 meses.

Nº 113 – canhão de salvas – bronze. Doação – Érico Stickel.

Nº 114 – Vitrina contendo o livro de Hans Staden (1593) – Relógio de sol do século XVII – em custódia – pertencente a d. Lúcia Piza Figueira de Mello Falkenberg. 3 moedas antigas encontradas no recinto da fortaleza.

Nº 115 – Idem. Contendo cerâmica indígena. Doação dr. Durval Bruzza.

Nº 116 – 2 bancos de canela com característicos do século XVII. Em custódia – pertence a d. Lúcia Falkenberg.

Nº 117 – 2 potes de barro – litoral

Nº 118 – Farinheira do litoral de São Paulo contendo: fuso, queijo da prensa, gamela, tipiti (balaio feito à mão), ralador, forno, prato de cobre do forno e pá de madeira.

Nº 119 – Garrucha do século XIX ("Sala de Armas")

Nº 120 – Gamela de Faveiro do Litoral ("Sala de Comer").

Estas peças foram doadas pelo sr. Manoel Gomes Romero Filho – Bertioga.




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BERTIOGA VERANISTA

COLÔNIA DE FÉRIAS DO SESC- 76 ANOS



As primeiras excursões turísticas da Colônia de Férias do Sesc em 1948



Uma das cidades mais antigas do Brasil e de grande importância histórica, Bertioga, com sua beleza natural, continua atraindo a atenção dos visitantes. Não é por menos: metade do território do município faz parte do Parque Estadual da Serra do Mar, o que o emparelha com as cidades com mais áreas verdes do Estado de São Paulo – um atrativo que faz do Sesc Bertioga, um lugar privilegiado. 
 
As atividades de Turismo Social desenvolvidas pelo Sesc em São Paulo começaram em setembro de 1948, com a inauguração da Colônia de Férias Ruy Fonseca (atual Centro de Férias Sesc Bertioga). 
 
Um das primeiras colônias de férias do país a contar com instalações próprias, ajudou a inserir no cotidiano dos trabalhadores a questão do tempo livre, numa época em que poucas pessoas se davam conta da importância desse aspecto para o bem-estar e o desenvolvimento social e cultural dos indivíduos.


 
 #memoriainstitucional #sescbertioga #76anos @sescmemorias




Localizado em uma área encantadora, no litoral norte de São Paulo, o Centro de Férias Sesc Bertioga é mais do que um hotel. Oferece várias atividades de lazer para que você não precise sair dali para se divertir.

Quando inaugurado, o Sesc Bertioga tinha 28 casas pré-fabricadas e recebia pouco mais de 200 pessoas por vez. As temporadas duravam 14 dias e todos os hóspedes chegavam e partiam juntos nas barcas da viação Santense, que fazia a travessia do canal entre Bertioga e Santos. 
 
Hoje, a Unidade possui completa infraestrutura de recreação: ginásio de esportes, circuito de caminhada, quadras de tênis e poliesportivas, minigolfe, campo oficial de futebol, parque aquático adulto e infantil, além de espaço relaxante. Atividades culturais e esportivas também estão programadas durante todo o dia, além de programas como o Curumim, Trabalho Social com Idosos e Odontologia oferecidos à comunidade. 
 
Dentro do perímetro também está a Reserva Natural Sesc Bertioga, formada por uma floresta alta de restinga, onde já foram encontradas mais de 600 espécies da flora e fauna. As premissas de trabalho no local são alicerçadas em bases de conservação da natureza, ações educativas e diálogo com a comunidade.


Bertioga

Situado no litoral norte de São Paulo, famoso pelas suas praias, o município de Bertioga reserva outras atrações além do belo mar. Uma delas é o Forte São João, inaugurado em 1547 e considerado o mais antigo do Brasil. No seu entorno fica o Parque dos Tupiniquins, que tem uma grande área verde, estátuas e artefatos históricos. Construída pelos ingleses no começo do século 20, a Usina de Itatinga reserva caminhadas e trilhas que levam a banhos de cachoeira. Para se chegar, você tem que ir de bonde, e o tour para conhecer tudo leva seis horas. Também é possível visitar a Aldeia dos Índios Guaranis, do Rio Silveira, no bairro da Boraceia, divisa entre Bertioga e São Sebastião. Se você gosta de praia, pode escolher entre a de Itaguaré, favorita dos surfistas, e as de São Lourenço e Guaratuba, que atraem famílias e crianças. A de Boraceia, por sua vez, tem quiosques e campings, e a da Enseada, no Centro, é a mais movimentada.








Colônia de Férias Ruy Fonseca, 1954 | Foto: Acervo Sesc SP

Vista aérea do Sesc Bertioga, 2020 | Foto: Ignácio Aronovich


Parte das hospedagens do Sesc Bertioga | Foto: Fotonativa



Pontos Turísticos

Forte São João
Usina de Itatinga
Aldeia dos Índios Guaranis
Praia de Itaguaré
Praia de São Lourenço
Praia de Guaratuba
Praia de Boraceia
Praia da Enseada



Fila da travessia da balsa Guarujá Bertioga em 1960.


Família veranista chegando em Bertioga no verão de 1966. SP em Fotos

A  RIVIERA DE SÃO LOURENÇO

Foi em 1979, em um vôo de helicóptero sobre a praia de São Lourenço, que a Riviera de São Lourenço começou a tomar forma.



A Riviera de São Lourenço é um loteamento aprovado, registrado no RI e em implantação há 43 anos sob a responsabilidade de uma única empresa, a Sobloco Construtora S.A. O planejamento deste bairro iniciou-se no final da década de 70 e suas normas de uso e ocupação do solo, vem sendo observadas até os dias de hoje. Seu projeto urbanístico, em área privada, é espelhado em maquete que se encontra há mais de 35 anos no SIV – Sistema Integrado de Vendas, e possui 33 módulos, distribuídos numa área de 9 milhões de metros quadrados, cercada pela praia, a rodovia Rio-Santos, o Jardim São Lourenço e bairro do Indaiá.

O Plano Urbanístico da Riviera de São Lourenço, com seus quase 9 milhões de m2, representa 1,8% da extensão territorial de Bertioga. Em sua fase atual, o empreendimento responde pela arrecadação de mais de 50% da arrecadação total do Município neste segmento tributário. Quando totalmente implantada a Riviera gerará aproximadamente R$ 60 milhões/ano, de arrecadação provenientes do IPTU e ITBI e responderá por mais de 70% da arrecadação do Município.

O canteiro de obras teve sua instalação iniciada em agosto de 1979 e nestes anos, muito se trabalhou para tornar a Riviera uma realidade.

Em 1982 a Sobloco, em conjunto com as empresas proprietárias da área – Praias Paulistas SA e Cia Fazenda Acaraú – criaram a Associação dos Amigos da Riviera, entidade sem fins lucrativos, que seria responsável pela manutenção e administração dos serviços urbanos da Riviera. Através da contribuição compulsória de todos os proprietários do empreendimento é ela a responsável pela manutenção das áreas urbanizadas, do uso apropriado da praia, da segurança, da operação e manutenção dos sistemas de água e esgoto, da coleta seletiva e da obediência e manutenção de todas as características urbanísticas concebidas e implantadas na Riviera.

Neste vôo, os diretores das empresas proprietárias da gleba – Praias Paulistas S.A e Cia Fazenda Acaraú – iniciavam os entendimentos com a diretoria da Sobloco Construtora S/A para a urbanização daquela área de 9 milhões de metros quadrados. Em agosto daquele ano o contrato estava assinado. A Riviera de São Lourenço nascia. Um traçado da malha viária, de autoria dos arquitetos Oswaldo Correa Gonçalves e Benno Perelmutter, em obediência às diretrizes fornecidas pela Prefeitura do Município de Santos, representou o ponto de partida do Plano Urbanístico.

Como uma das empresas de maior experiência no campo do desenvolvimento urbano do país, a Sobloco, então apoiada pelos mais renomados profissionais, estabeleceu o disciplinamento do uso e ocupação do solo, os recuos, as limitações, os incentivos à construção, as restrições às especulações imobiliárias, a busca de soluções para os impactos ambientais, a criação dos processos de vigilância aos eventuais abusos e desvirtuamentos na ocupação de área, os detalhes das obras de infra-estrutura e a montagem de toda a estrutura jurídica do empreendimento, sempre visando a melhor qualidade de vida para os futuros moradores da Riviera.


Após ter obtido todas as aprovações, a Sobloco instalou, então, o canteiro de obras no mesmo ano de 1979, quando iniciaram-se os primeiros trabalhos efetivos de construção da Riviera. Ao mesmo tempo, iniciou-se os estudos de mercado, a análise jurídica e o detalhamento dos demais projetos de terraplanagem, drenagem, rede de água, rede de esgotos e os complexos estudos oceanográficos e de detalhamento da marina. Como todo projeto inédito, houve descrença de muitos setores. Implantar uma cidade com toda infra-estrutura, em uma praia deserta, parecia temerário e muito difícil. A sólida estrutura da Sobloco foi necessária para a arregimentação dos recursos de longo prazo para o desenvolvimento da Riviera.

A implantação começou em 1979 com a abertura das primeiras ruas, a instalação da fábrica de guias e tubos de concreto, os trabalhos de abertura dos canais, a instalação do viveiro de mudas e os estudos para captação de água. Nesta época, as rodovias de acesso ainda não estavam prontas e os caminhões e máquinas tinham que chegar na área por balsa, o que dificultava bastante os trabalhos.


A Rodovia Mogi-Bertioga foi inaugurada em 1982, agilizando o processo. A Rodovia Rio-Santos foi inaugurada em 1985. Em 1982, já havia 20 quilômetros de ruas com guias colocadas, a primeira estação de tratamento de água (com capacidade para tratar 20 mil litros por hora) já estava em construção e o sistema de paisagismo estava bastante adiantado, com a importação de 8 mil mudas de coqueiros da Bahia em desenvolvimento no viveiro. O stand de vendas teve sua obra terminada em janeiro de 1983, quando iniciou-se a comercialização dos primeiros terrenos no Módulo 5, hoje Coqueiros.

Em 1982 foi criada a Associação dos Amigos da Riviera de São Lourenço, entidade que viria a se responsabilizar por toda a manutenção e operação dos equipamentos implantados na Riviera.

O primeiro prédio – o Riviera Flat -, no módulo 3, veio em 1983 e foi um desafio porque, nesta época, os agentes financeiros custavam a acreditar neste investimento. Tendo como garantia o nome da Sobloco, o Riviera Flat começou a ser levantado. Na praia deserta, a placa instalada junto ao edifício solitário era uma profecia, mas poucos acreditaram nela. “Aqui está sendo criado um modelo de urbanização”, dizia o painel. Foi difícil vender as primeiras unidades e só os compradores com espírito pioneiro deixaram-se seduzir. A ele seguiu-se o Edifício Sunset, também no módulo 3 – Caravelas e, um pouco mais tarde dezenas de outros prédios de diversas incorporadoras e construtoras.


Aos poucos foi crescendo também o número de casas em construção. Ao mesmo tempo incentivava-se a instalação do comércio no local. O supermercado da Riviera foi inaugurado em maio de 1986, juntamente o com o Auto Posto da Riviera de São Lourenço. O restaurante junto ao stand de vendas começou suas atividades no final de 1985.

O primeiro segmento do Riviera Shopping foi inaugurado em janeiro de 1991, representando um importante passo no desenvolvimento da Riviera. Enfim, planejando desde as macro soluções até a compra de mudas de coqueiros da Bahia e colocando o interesse comum sempre à frente: é assim que a Sobloco vem conduzindo os trabalhos.

Em 2000 o Sistema de Gestão Ambiental da Riviera foi certificado com a Norma ISO 14001, tornando a Riviera o primeiro projeto de desenvolvimento urbano a receber este reconhecimento em todo o mundo.

Hoje a Riviera tem cerca de 60% de sua área ocupada: são mais de 11 mil unidades habitacionais, distribuídas entre 2000 casas e 200 edifícios entre seis e dez pavimentos, um segmento do Riviera Shopping Center em funcionamento com 50 lojas, escolas, consultórios médico e dentário, uma completa infra-estrutura de saneamento básico, além da Associação dos Amigos da Riviera de São Lourenço, entidade sem fins lucrativos que, com mais de 500 funcionários, representa a maior empresa do município de Bertioga.

Quem conheceu a Riviera no início dos anos 80 se admira com seu desenvolvimento, e reconhece neste empreendimento um patrimônio para todo o Brasil.




ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS


A administração dos serviços urbanos é feita pela Associação dos Amigos da Riviera de São Lourenço, uma entidade sem fins lucrativos, que funciona através da contribuição de todos os proprietários. Ela é responsável pela gestão do dia a dia do empreendimento: manutenção e operação dos sistemas de água e esgotos da Riviera, manutenção das vias, poda de árvores, coleta seletiva, limpeza da praia, salva vidas, análises de controle ambiental, campanhas de combate à dengue, fiscalização às obras para obediência às restrições urbanísticas do empreendimento e tudo o que envolve o bem-estar comum.

A Associação dos Amigos trabalha com gestão profissionalizada e em parceria com a Prefeitura e concessionárias de serviços públicos. Hoje conta com mais de 500 funcionários registrados, entre engenheiros, arquitetos, biólogos, técnicos, administradores entre outros, que diariamente percorrem o empreendimento fiscalizando e cuidando de seus equipamentos urbanos. A eficiência desta gestão ambiental pode ser demonstrada pela certificação ISO 14001, a primeira no mundo a ser concedida para um bairro/cidade.








BERTIOGA HISTÓRICA

Brasão do antigo Instituto Histórico e Geográfico Guarujá-Bertioga * Ilustração : Francisco Barbosa dos Santos. Poliantéia Vicentina. 1982. ...